MEMÓRIA CULTURAL
Um pedaço da África em São Paulo
Ainda pouco conhecido, o primeiro centro cultural da cidade dedicado às tradições afro-brasileiras quer criar uma ponte entre o continente negro e o nosso país.
Por Bruno Fiuza
“Yababa kuara, tem magia/ Foi templo quilombola/ Refúgio para a Liberdade/ Raízes da nossa Escola/ Axé! A fé conduz”. Assim começa o samba enredo da Barroca Zona Sul durante o desfile do Grupo 1 da União das Escolas de Samba de São Paulo (Uesp) em 2013. Sediada no distrito do Jabaquara, na Zona Sul da cidade, a escola contou a história do bairro, desde os tempos em que era uma sesmaria do padre José de Anchieta, no século XVI, até hoje. E, como não poderia deixar de ser, o samba começa com a passagem mais fascinante, misteriosa e polêmica desse enredo: a ideia de que, nos tempos da escravidão, teria existido um grande quilombo ao sul da cidade de São Paulo, na região que hoje corresponde ao distrito do Jabaquara.
O detalhe é que muitos defensores da teoria acreditam que o suposto quilombo ficava exatamente onde hoje funciona aquele que foi o primeiro centro cultural dedicado às tradições negras em São Paulo, o Acervo da Memória e do Viver Afro-Brasileiro Caio Egydio de Souza Aranha. A instituição ocupa o prédio que originalmente abrigou o Centro Cultural do Jabaquara, construído no fim da década de 1970 no terreno do antigo Sítio da Ressaca, que era parte de uma das sesmarias do padre José de Anchieta.
A propriedade dos jesuítas era utilizada desde o século XVI como um ponto de parada para os viajantes que iam da vila de São Paulo para a então vila de Santo Amaro, à qual pertencia a atual região do Jabaquara. Neste sítio foi construída, em 1719, uma casa de taipa de pilão que resistiu ao tempo e chegou intacta ao século XX. Tombado como patrimônio histórico da cidade em 1972, a Casa do Sítio da Ressaca hoje faz parte do complexo que abriga o Acervo da Memória e do Viver Afro-Brasileiro.
Muitos moradores da região, no entanto, acreditam que essa não é toda história da Casa do Sítio da Ressaca. Por estar situada em um uma área que até o século XIX era praticamente de mata fechada e que estava no caminho para Santos, a antiga chácara dos jesuítas é alvo de inúmeras especulações. Alguns acreditam que, no século XVII, ali viveu um padre que acobertava negros fugidos; outros defendem que toda a região foi um enorme esconderijo habitado por milhares de escravos rebeldes; e há quem suspeite que a Casa do Sítio da Ressaca foi um dos abrigos utilizados por uma sociedade secreta de abolicionistas que na década de 1880 ajudava os cativos a fugir das fazendas do interior paulista e os levava em segredo até o Quilombo do Jabaquara – este sim, é bem conhecido, mas ficava na cidade de Santos.
Como se vê, as hipóteses são fascinantes, mas até hoje não foram encontradas provas materiais que as confirmem. O Jabaquara de São Paulo, no entanto, tem outra história, talvez menos fantásticas, mas que revela uma parte da intensa luta travada nas últimas décadas pela cultura negra para conquistar o espaço que merece na metrópole.
Era o candomblé
Tudo começa na década de 1970, quando Caio Egydio, um pai de santo que já atuava na região desde os anos 50, comprou um terreno de 4000 metros quadrados na Vila Fachini, bairro do distrito do Jabaquara, onde construiu o que ele chamou de um palácio em homenagem a Xangô. Batizado de Axé Ilê Obá, o terreiro de candomblé foi inaugurado no dia 12 de fevereiro de 1975 e logo se tornou um dos mais importantes locais dedicados aos cultos afro na cidade.
Pai Caio de Xangô, como era conhecido, contribuiu muito para a preservação e divulgação das tradições africanas trazidas ao Brasil. Por isso, quando morreu, em 1985, era uma referência para a comunidade negra da região. Ciente disso, sua sobrinha, Mãe Sylvia de Oxalá, que o sucedeu à frente do Axé Ilê Obá em 1986, começou a trabalhar para preservar a memória e o legado do tio.
A primeira iniciativa de Mãe Sylvia foi pedir o tombamento do Axé Ilê Obá ao Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat), em 1988. Em uma decisão surpreendente o colegiado do Condephaat julgou a importância do lugar como espaço de preservação de um patrimônio imaterial – a tradição religiosa de raiz negra em São Paulo – e em 23 de abril de 1990 tombou o Axé Ilê Obá como bem de interesse histórico e espaço sagrado, fazendo do terreiro a primeira construção do gênero a ser reconhecida como patrimônio cultural no estado.
Logo em seguida, Mãe Sylvia percebeu a necessidade de criar um espaço mais amplo para preservar e divulgar a cultura afro-brasileira além dos muros do Axé Ilê Obá. Foi então que, por meio de uma articulação com a Prefeitura de São Paulo surgiu a ideia do Acervo da Memória e do Viver Afro-Brasileiro. O momento político era propício. Luiza Erundina havia sido eleita prefeita de São Paulo em 1988, e pela primeira vez uma grande cidade brasileira era governada pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Além disso, um decreto de 1989 havia criado a Coordenadoria Especial do Negro (CEN), primeiro órgão municipal do gênero, que em 1992 se transformaria na Coordenadoria dos Assuntos da População Negra (Cone).
Foi nesse contexto que, em 13 de maio de 1992, o então vereador do Partido Comunista do Brasil (PC do B), Vital Nolasco, apresentou na Câmara Municipal de São Paulo o Projeto de Lei 151, propondo a criação do Acervo da Memória e do Viver Afro-Brasileiro, instituição cuja finalidade seria “a preservação e a divulgação da cultura afro-brasileira em suas mais diversas manifestações”. O projeto foi aprovado em 26 de novembro daquele ano, quando se transformou na Lei 11.293. Assim nasceu o primeiro espaço cultural da cidade de São Paulo dedicado às tradições negras.
Barganhas políticas
Por que, então, até hoje o Acervo não é tão conhecido pela própria população de São Paulo? A resposta está no jogo de poder que envolve a administração dos equipamentos culturais da cidade. O Acervo da Memória e do Viver Afro-Brasileiro passou a funcionar dentro do antigo Centro Cultural do Jabaquara (que foi rebatizado em 1986 de Centro Cultural Jacob Salvador Zveibil), mas não enquanto um espaço autônomo, como previa o projeto de lei. Dessa forma, ficou submetido às barganhas políticas que cada administração municipal fazia com os cargos de administração daquele equipamento. E eles valiam muito.
Fundado em 12 de julho de 1980, o Centro Cultural do Jabaquara foi a primeira construção do gênero na história da cidade de São Paulo. O complexo contava com duas bibliotecas (a Biblioteca Pública Paulo Duarte e a Biblioteca Infantil do Centro Cultural do Jabaquara), um auditório para 300 pessoas e um átrio destinado à realização de exposições, palestras e oficinas.
Foi nesse espaço nobre de cultura da capital que, em dezembro de 1992, foi instalado o Acervo da Memória e do Viver Afro-Brasileiro, subordinado à Secretaria Municipal de Cultura. A ideia do Acervo, no entanto, mal teve tempo de florescer. O projeto do vereador Vital Nolasco previa que aquele seria um espaço de preservação e divulgação da cultura afro-brasileira por meio da realização de exposições e da montagem de um centro de documentação e pesquisa da história e das tradições negras no Brasil. No entanto, durante as administrações de Paulo Maluf (1993-1996) e de seu sucessor, Celso Pitta (1997-2000), tudo isso virou letra morta.
“Até 2001 o espaço só existia no papel. Havia duas atividades permanentes no Acervo, sem nenhum apoio da Secretaria Municipal de Cultura. Aulas de capoeira e de chorinho. A grama estava enorme e quase ninguém frequentava o local”, conta o antropólogo José Pedro da Silva Neto, que foi coordenador do Acervo de setembro de 2003 a maio de 2005. Membro do núcleo de pesquisas em Relações Raciais, Memória, Identidade e Imaginário da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), ele diz que somente em 2001, quando Marta Suplicy assumiu a Prefeitura de São Paulo, o Acervo da Memória e do Viver Afro-Brasileiro começou a retomar sua vocação original.
Movimentos sociais
Segundo José Pedro, esse trabalho começou durante a gestão de Salomão Jovino da Silva, que assumiu a coordenação do Acervo em 2000. “Salomão revitalizou a frequência do espaço, construiu relações com a comunidade e os poderes públicos locais, trazendo à tona novamente a questão da cultura negra, que já não existia na gestão de Celso Pitta. Sua sucessora, Renata Melo Barbosa, articulou uma relação maior entre a Secretaria Municipal e a Coordenadoria dos Assuntos da População Negra (Cone). Eu continuei o trabalho com a reforma do auditório e o desenvolvimento de dez oficinas anuais, todas relacionadas à cultura negra”, afirma ele.
O ex-coordenador diz, ainda, que entre 2001 e 2005 o projeto original do Acervo foi implantado na prática, pois as principais atividades do Centro Cultural – transformado em Casa de Cultura Jacob Salvador Zveibil – giravam em torno da promoção da arte e do viver negro. Nessa época o Acervo deu apoio a projetos realizados em parceria com a comunidade local, como o projeto Hip Hop e Raiz, que ao longo de três anos realizou cerca de dez edições com todas as linguagens do hip hop e rodas de conversas sobre educação.
Tudo isso começaria a mudar, no entanto, com a criação das Subprefeituras, em 2004. O Acervo foi transferido da esfera da Secretaria Municipal de Cultura para o âmbito da Subprefeitura do Jabaquara, o que o colocou novamente no mercado das negociações políticas. Com a eleição de José Serra para a Prefeitura de São Paulo, em 2005, José Pedro foi exonerado e o Centro Cultural Jacob Salvador Zveibil foi entregue a pessoas ligadas ao novo supervisor cultural da subprefeitura, o ator Norton Nascimento.
Segundo Mãe Sylvia, nesse momento muitas pessoas do Axé Ilê Obá que atuavam no Acervo passaram a sofrer perseguições. A mãe de santo diz que isso aconteceu, pois, como Nascimento era evangélico, teria nomeado pessoas ligadas à sua religião, que passaram a combater os cultos afro no interior do Acervo. De acordo com Mãe Sylvia, essa situação perdurou durante toda a gestão de Serra (2005-2006) e se estendeu pelos dois mandatos de Gilberto Kassab (2006-2008 e 2009-2012).
Desgostosa com os rumos do Acervo, ela saiu da cena pública, mas passou a articular politicamente nos bastidores para reverter a situação. A mobilização deu certo e, por pressão da Câmara Municipal, em 18 de maio de 2012 o prefeito Gilberto Kassab publicou o Decreto 53.154, que extinguiu a Casa de Cultura Jacob Salvador Zveibil como unidade autônoma vinculada à Subprefeitura do Jabaquara e determinou que no seu lugar passaria a funcionar o Acervo da Memória e do Viver Afro-Brasileiro Caio Egydio de Souza Aranha, diretamente vinculado à Secretaria Municipal da Cultura. Além disso, o decreto transformou a Biblioteca Pública Paulo Duarte em biblioteca temática de estudos afro-brasileiros.
Pela primeira vez, desde 1992, todo o antigo Centro Cultural do Jabaquara se tornava um espaço dedicado à preservação e divulgação da cultura negra em São Paulo, como previa o projeto original do vereador Vital Nolasco.
Um novo começo
A pessoa escolhida para coordenar o Acervo nessa nova fase foi Júlio César Pereira de Freitas, escritor e professor de literatura das redes pública e privada em São Paulo, ligado ao movimento da arte periférica na cidade. E para marcar a retomada do Acervo ele reuniu artistas, pesquisadores, produtores culturais, ativistas sociais e lideranças religiosas em um evento que chamou de “encontro de quilombos”.
Aproveitando as celebrações do Dia da Consciência Negra, entre 10 de novembro e 1 de dezembro de 2012, o Ipadé-Sirê (“encontro de consciência” em iorubá) reuniu no Acervo pessoas envolvidas com as mais variadas formas de expressão da cultura negra em São Paulo. A cada fim de semana foram organizadas mesas temáticas tratando de um aspecto da arte, da memória e do viver afro-brasileiro na cidade: literatura, audiovisual, teatro, artes visuais e artesanato, música, dança, saúde e espiritualidade, gastronomia, trabalho comunitário, história e antropologia. Segundo Júlio César, o objetivo do Ipadé Sirê foi “mostrar para a cidade de São Paulo que há um local agora onde se discute a africanidade com seriedade e com dignidade, sem ranços com a história oficial”.
E, pelo jeito, isso é só o começo. O novo coordenador diz que pretende investigar a fundo a questão mais polêmica que cerca o Acervo da Memória e do Viver Afro-Brasileiro: a existência de um suposto quilombo na região do Jabaquara, em São Paulo.
Quilombo perdido
É difícil saber exatamente quando começou a circular no Jabaquara a história de que teria existido um quilombo na região. O fato é que hoje essa ideia está presente em matérias jornalísticas, discursos de moradores e até no samba enredo de uma escola local. Segundo Ana Maria Fuster Coluccio, editora do Jornal São Paulo Zona Sul e pesquisadora da história do Jabaquara, a origem da polêmica está no próprio nome do bairro, que vem do tupi “yab-a-quar-a” (ou “yababa kuara”, segundo Hernani Siqueira, carnavalesco da Barroca Zona Sul). Em geral, esse termo é traduzido como “rocha e buraco”, mas Ana Maria diz que se trata de uma interpretação equivocada.
Em um artigo publicado no jornal em maio de 2006 ela afirma que a expressão quer dizer “homem que voa do rio”. De acordo com a autora, “para os índios, os negros que fugiam da escravidão eram ‘homens que voavam’”, e o nome do bairro faria referência aos escravos que escapavam das fazendas e se refugiavam nas matas da região onde hoje fica o Jabaquara – que nesses tempos era parte da vila de Santo Amaro. Na época, os limites entre esse povoado e a vila de São Paulo era o chamado Córrego da Traição, que hoje corre sob a Avenida dos Bandeirantes.
Em outro artigo publicado no Jornal São Paulo Zona Sul, desta vez em março de 2008, Ana Maria afirma que no século XVII um pequeno grupo de escravos fugitivos se refugiou na região do atual Jabaquara e era acobertado e liderado pelo padre jesuíta Domingos Gomes Albernaz. Segundo o historiador Afonso D’Escragnolle Taunay, o padre Albernaz foi nomeado vigário da vila de São Paulo na década de 1640 e sempre teve uma relação conflituosa com os poderosos locais.
De acordo com Ana Maria, ele mantinha sob sua custódia um grupo de escravos fugidos que abordavam, em busca de dinheiro e comida, os viajantes que passavam às margens do Córrego da Traição. E, segundo registros históricos, o vigário vivia justamente no Sítio da Ressaca. Em um levantamento fotográfico que fez da antiga chácara dos jesuítas em 1938, Benedito Junqueira Duarte afirma que aquela que hoje é chamada de Casa do Sítio da Ressaca “ficou sendo conhecida pela denominação Casa do Padre Albernaz, embora não tenha sido por ele edificada”.
Há, no entanto, outras versões para a história do suposto Quilombo do Jabaquara de São Paulo. Em fevereiro de 2002 o Jornal Jabaquara em Notícias publicou uma matéria para celebrar os 38 anos do distrito, que só foi incorporado oficialmente à cidade de São Paulo em 1964. O texto, que não foi assinado, conta a história da região e afirma que o Sítio da Ressaca teria sido fundado pelo próprio padre José de Anchieta como um local de descanso para os viajantes que iam para o litoral. De acordo com a matéria, o sítio seria enorme e teria se tornado uma espécie de quilombo que chegou a abrigar cerca de 10.000 escravos fugidos.
O autor anônimo desse texto, no entanto, parece confundir o bairro do Jabaquara de São Paulo com o Jabaquara de Santos, onde comprovadamente existiu um quilombo no século XIX, que, segundo historiadores como Clóvis Moura, teria abrigado por volta de 10.000 cativos. Ana Maria Coluccio lembra que é muito difícil ter existido um quilombo em São Paulo com esse número de escravos, pois em 1872 a população total da cidade não passava de 32.000 habitantes e nunca contou com tantos negros escravizados quanto outras parte do país.
Seja como for, há quem defenda que os quilombos nos bairros do Jabaquara de Santos e de São Paulo seriam um enorme e único reduto de escravos fugidos. Uma delas é Mãe Sylvia de Oxalá. “É um espaço que era o Quilombo do Jabaquara. Não há a menor dúvida de que subiram de Santos para cá. Mas aqui refizeram, porque eles iam subindo e deixando as marcas deles, a tradição, os costumes e tudo mais”, afirma. Segundo ela, a Casa do Sítio da Ressaca seria um esconderijo de escravos, que ficavam ali enquanto não achavam um lugar melhor para se estabelecer.
Essa também é a aposta do atual coordenador do Acervo, Júlio César Pereira de Freitas. Segundo ele, a equipe que organizou o Ipadé Sirê fez uma pesquisa sobre a suposta presença de escravos fugidos no Sítio da Ressaca e a investigação sugeriu que o local pode ter sido um dos abrigos utilizados no século XIX por uma rede clandestina de abolicionistas que ajudava os negros a fugir das fazendas.
Os caifazes, como eram chamados, formavam um grupo criado em 1882 pelo coronel Antônio Bento, célebre abolicionista de São Paulo. Os membros da rede entravam disfarçados nas senzalas das grandes fazendas do interior da província para libertar os escravos e os encaminhavam para Santos, onde o grupo criou o famoso Quilombo do Jabaquara em 1882.
Até chegar ao litoral, os escravos fugidos passavam por uma grande rede de abrigos espalhados pela província e pela própria capital. Como o Sítio da Ressaca ficava às margens de um dos caminhos que levavam à Serra do Mar, Júlio César acredita que o local pode ter sido um desses refúgios.
Até hoje, porém, não foram encontradas provas materiais que respaldem essas teorias. A professora Maria Helena Machado, do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP), que há mais de 20 anos pesquisa a história da resistência escrava na província de São Paulo, diz que nunca encontrou nos documentos nenhuma menção a quilombos na região do atual Jabaquara de São Paulo, nem qualquer referência que relacione a Casa do Sítio da Ressaca aos caifazes. Ela lembra, no entanto, que a ausência de citações nos documentos conhecidos até hoje não é prova da inexistência de um quilombo na região.
É com base nessa crença que Júlio César pretende seguir investigando, para contar uma história que, segundo ele, “precisa vir à tona e ser revista com seriedade”.
Planos
O Acervo da Memória e do Viver Afro-Brasileiro, no entanto, não vive só do passado. Muito pelo contrário. Segundo Júlio César, o principal objetivo do espaço é divulgar o que artistas e pensadores negros estão fazendo no Brasil e na África hoje: “O que interessa é a produção, que isso aqui seja um espaço para a divulgação do pensar e do modo como o negro vê o mundo contemporâneo”.
Ele lembra, no entanto, que o foco na cultura negra não significa expulsar outras formas de pensamento do espaço: “Nós não queremos eliminar nada do que já existia aqui no Centro Cultural, agora Acervo. A gente veio acrescentar, dar uma opção a mais de cultura para a população do entorno. A ideia é começar a mostrar para a cidade de São Paulo que aqui a gente está fazendo uma discussão séria e produzindo cultura e arte. E o fascínio da coisa é que a gente está na periferia. É um olhar daqui para o outro lado”.
Essa filosofia pode ser vista, por exemplo, na Biblioteca Paulo Duarte, que no ano passado se transformou em unidade temática dedicada aos estudos afro-brasileiros. Júlio César afirma que o acervo já conta com quase mil obras só de autores negros e não foi excluído nenhum outro autor que fazia parte da coleção.
A biblioteca é uma ótima fonte de pesquisas para quem quer saber mais sobre a história da África e do negro no Brasil. Lá estão, à disposição do público, obras clássicas, como a História Geral da África, editada pela Unesco (o trabalho mais completo já feito sobre a trajetória do continente), e títulos dos mais importantes pesquisadores da cultura afro-brasileira, como Edison Carneiro, Clóvis Moura, Emília Viotti da Costa, João José Reis, Nei Lopes, Flávio dos Santos Gomes, Leila Leite Henandez, Manolo Florentino, Luiz Felipe Alencastro e Kabengele Munanga, entre muitos outros.
Bruno Fiuza é jornalista.
Acervo da Memória e do Viver Afro-Brasileiro Caio Egydio de Souza Aranha
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